De leve, ele tocou meus cabelos. Disse “você está diferente” e eu nada respondi. Perguntou se poderia se sentar ao meu lado e eu novamente, nada respondi. Então ele se sentou. Ficou calado durante algum tempo, e eu também. Depois, de súbito virou-se para mim. As mãos para o alto, a boca aberta tentava gesticular, mas ele calou, e eu fingi não ver aquilo. Ele continuou a me olhar. Parecia ter medo de dizer alguma coisa errada, parecia saber que fez tudo errado. E eu ali calada, sabia que tudo tinha dado errado, mas mal podia respirar, quem dirá mover-me dali.
Novamente ele disse, “você esta diferente” e eu então sorri. Como uma criança, eu sorri. Com a inocência de quem acredita, eu sorri. E ele com uma fagulha de esperança, continuou tentando recobrar o ar que tanto me faltou. Mas como uma mulher calei-me. Com a descrença de quem conhece o outro, calei-me e nada passei a escutar.
Pude perceber, que ele me olhava confuso, com certo desespero. Falava aos berros, como se soubesse que aquilo a nada levara. E sem me conter, sorri despercebidamente. Ele levantou. Olhou em meus olhos, me segurou pelos braços e começou a me sacudir. Depois me abraçou e como quem gosta, disse “Só te peço pra me escutar, pelo menos dessa vez.” “Olha pra mim, eu ainda te amo.”
E ao ouvir isso, ainda entre seus braços eu realmente sorri. Sorri com alívio. Com o alívio de quem depois de tanto tempo, conseguiu respirar. E pela primeira e última vez, passei-lhe a mão nos cabelos e disse “eu cresci”.
Tassiana Frank